quarta-feira, 28 de novembro de 2012

domingo, 25 de novembro de 2012

Em nome do pai


“Sally! Sally!”
“Adam! Graças a Deus você está bem, eu fiquei horas...”
“Ok Sally, ok. Vá se tranquilizando. Eu estou aqui agora.”
Sei que já se tornou parte da minha rotina, mas ver Sally saindo pela porta com aquele sorriso desenhado no rosto, enche meu corpo de orgulho. Orgulho por ter encontrado uma garota assim. Meu orgulho só aumenta quando desço do cavalo e ela vem correndo me beijar.
“Oh Adam, eu não sabia mais o que fazer. Fiquei rezando para que você chegasse são em casa.”
“Eu sei querida, mas ficarei poucos dias e então irei partir. As coisas não vão ficar assim.”
“Não meu amor, por favor, deixe isso pra lá. Nós vamos encontrar uma saída, sempre podemos voltar.”
Não, nós não podíamos, eu havia vendido cada pedaço de terra que havíamos possuído.
Eu e Sally nos conhecemos e casamos em Gordburd, ao sul de Jersey, e lá vivíamos em uma pequena cabana perto do centro. Não tínhamos muito alem de um ao outro, mas éramos felizes. No ultimo inverno nossos problemas com dinheiro foram aumentando gradativamente e eu não conseguia nenhum trabalho fixo. Tudo estava muito difícil até que os Buckness, uma família empreendedora de Ohio, comprou um grande lote de terras no Oeste e havia se mudado para lá. Eles estavam contratando um grupo de pessoas para ocupar e cuidar de diversas partes do grande lote. Eu aceitei a proposta, na promessa de que iríamos viver ali enquanto o céu fosse azul, o pasto fosse verde e o vento soprasse de todos os lados, mas parece que existem dias em que o céu não é mais azul, o pasto seca e o vento não sopra de nenhuma direção. Os Buckness voltaram atrás nas promessas e tão rápido quanto chegamos já nos queriam ver partindo. Mas eu não vou deixar que eles me façam de tolo. Eu vivi minha vida inteira de acordo com as regras, digamos que era isso que eu estava fazendo errado.
Aceitei uma verdade que todos sabiam, mas ninguém admitia: a justiça no Oeste Selvagem só era feita com o apertar de gatilhos de Colts e Winchesters.
Juntei uma milícia de homens descontentes com os Buckness para o bem de nossas famílias. Uma noite, saímos armados em direção a um pequeno vale onde ficava a residência dos Buckness. Eu dei uma desculpa qualquer para que Sally não soubesse de nada e assim não se preocupasse.
Chegando às beiradas do vale, jogamos coquetéis Molotov na casa, fazendo com que a madeira nas paredes estalasse e ardesse em chamas. Algumas pessoas saíram gritando e pegando fogo, outras com revólveres, que foram rapidamente fuziladas por nós. Enfim acabamos com todos eles. Enfim poderíamos viver nossas vidas em paz. Ver os Buckness em terror e ardendo em fogo foi algo lamentável, mesmo sendo eles que estavam destruindo nossas vidas. Que Deus me perdoe, tudo que eu fiz foi por Sally. Foi para ver seu rosto até meu ultimo suspiro. Foi para algum dia, eu ouvir a doce risada de nosso filho. Foi pela nossa vida.               Nick & J.Kley

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Notas um segundo melhor?



Debruçado sobre a mesa, eu comecei a fitar a janela do meu quarto, de persiana fechada, até que meu olhar captou as pequenas gotas de chuva que se acolheram no vidro ao entardecer. Elas refletiam a luz da lâmpada. Tinha uma constelação inteira na minha janela Não existia muito de mim nesse quarto, passo mais tempo brincando com as ideias que surgem na minha mente do que me distraindo com algum artigo perdido no meu armário.
Em uma dessas viagens, eu acabei olhando para o canto e vi a TV desligada. Ela não era nem tão grande e nem tão pequena. Era aquele cubo cinza com uma tela preta a qual não estávamos mais acostumados a ver. Sem pensar, eu pressionei o botão verde e a caixa cinza começou a emitir um som, uma frequência de vibrações, aquela que nos preparava para as cenas que estavam por vir. Então, estática: os milhares de pixels gritavam e corriam pelos
quatro cantos da tela, sem saber aonde iriam chegar. Eu sentia falta disso. Desliguei a TV e me deitei no sofá. Pensar deveria ser considerado um sentido, afinal é a nossa mente que nos faz perceber os outros cinco. Podia ouvir o rádio sendo ligado no outro cômodo. Havia tido uma boa refeição no almoço. Azul, rosa, verde. Esses rostos emoldurados na prateleira me incomodavam, não paravam de me encarar. Minhas roupas estavam muito amassadas. Essas eram as minhas opiniões, mesmo sendo tudo tão relativo. Pessoas estão sempre dando suas opiniões sobre coisas de caráter tão aberto a distintas interpretações. Sinto-me na necessidade de pedir para que façam a fila até serem chamadas.
Parecia ser outro dia.
Acabei dormindo por algumas horas e acordei sentindo, com a ponta dos meus dedos, a cruz que estava em meu pescoço. Gosto muito dela, apesar dos significados que atribuem a sua existência e das alegrias e dificuldades que eu tenho que passar por causa deles. Pergunto-me: “O que os ateus diriam sobre alguém de pouca fé, usar uma cruz com gosto e segurança?”
Talvez eles fossem dizer que a minha falta de conhecimento reflete a inconsistência da religião, a qual acreditariam que eu seja adepto. E ainda: “O que os cristãos diriam sobre eu usar uma cruz e ainda festejar e questionar tanto, usando de interpretações que não são as predeterminadas por eles?”. Minha falta de fé e minha negação de ver as coisas como elas realmente são apenas mostram o quão fora do caminho eu estou. O que diria Jesus se eu perguntasse “Posso usar tua cruz nesse mundo como ele é?”.
                                                                                                                                                          -Nick

sábado, 3 de novembro de 2012

1 = 2 + 1/2 = 0


De quando um você tira dois, que com mais meio ainda assim da zero. Digamos que eu estivesse lá. Aceitemos a hipótese de que a arte da ocasião pendeu para o lado que vocês já imaginam. Vocês realmente acham que eu, eu mesmo seria a pessoa escolhida para participar de infortunada situação?
- Do que você está falando? O que aconteceu depois que todos saíram da festa?
- Hahaha. Estou só brincando com vocês. Já vou continuar a história.
 “Faltava em torno de uma hora para que uma quantidade considerável de pessoas chegasse à casa da Tati. Eu odeio ser uma das primeiras pessoas a chegar, me traz uma sensação de desconforto descomunal.”
 - Você passou a tarde lá com seis pessoas e a Tati.
- Eu sei! Não me interrompam, estava preparando vocês para o contexto.
“A sensação era um tanto parecida. Eu já estava no local e eu já a tinha visto falando com a Tati e algumas outras pessoas diversas vezes. Mas, foi engraçado perceber depois que sua presença não havia sido sentida por mim. Ela sentava, ria, encarava e se mexia. Era tudo tão bonito, tudo tão simplesmente simples.”
- Vá direto ao ponto. Já sabemos onde isso vai dar.
- Vocês não tem a menor noção. Quando a festa começou, eu estava no andar de cima conversando com meus colegas da natação. Aquilo levou um bom tempo para se concluir e não foi uma conversa que tenha me agregado muita coisa. Eu desci, sem a menor das expectativas de fazer com que a festa fosse valer a pena ou de me divertir. Não era nem mais, nem menos. Foi nessa descida que eu a vi: de pé, de frente para a pequena mesinha brega de vidro, dando as costas para tudo.
“Eu não me lembro ao certo como cheguei à parte que irei agora contar. Acho que me desliguei e me tornei um mero personagem que seguia um script cravado no meu subconsciente. Sei que parece estranho, mas, se esforcem em acreditar. Fui em direção àquela menina, que não mais sentava, ria, encarava e se mexia. Ela estava outra. Em nenhum outro dos milhares de dias que eu a havia visto antes eu me lembro dela ser aquela que ela era naquele momento... Que coisa gostosa!
- Obrigado, minha mãe que fez. Foco! Continue...
- Certamente. Quando me aproximei, ela me olhou através de seus negros olhos e eu a fitei com uma sinceridade a qual não sou capaz de reproduzir. Ainda mantendo o script, começamos a compartilhar frases que nunca haviam sido proferidas antes. Ela havia decorado suas falas e eu as minhas, sem contar que nosso timing estava perfeito. Nós sentamos no sofá que estava ao nosso lado e mantivemos aquela encenação por mais umas três ou quatro palavras, até que ela agarrou meu braço, com medo. Foi aí que eu lembrei com quem eu estava falando e a da situação que acabaria ocorrendo: aquela menina tinha medo de gente.
- Sem extras. Pule para o final.
- Não posso perder esta chance.
Ela então soltou o meu braço para novamente agarrá-lo. Como ela tinha medo de gente! Olhamos um para o outro e lentamente fomos deitando no sofá, tão perdidos no que quer que fosse o momento. Nós acabamos desconsiderando as duas outras meninas que ali estavam sentadas. Ela olhou para as duas e pediu que ambas se retirassem, já que tomaria parte um acontecimento de importância estelar e precisávamos consertar as variáveis: palavras fortes para alguém que sempre tivera medo de pessoas. As meninas se retiraram com um rosto desaprovador, que não poderíamos ter ignorado mais.
Estávamos completamente no Sofá, quando vi a garota que havia tomado o corpo daquela menina que tinha medo de pessoas.
- Já entendemos essa parte.
- Creio que ainda não fui claro ao quanto medo de pessoas aquela menina tinha.
Então aconteceu: não havia mais diferença entre uma e outra pessoa. Estávamos juntos e aquilo não poderia ser mais certo. Eu estava feito, completo. Cada centímetro do mundo tinha seu lugar.
Não foi a festa inteira assim, por partes levantei e tomei um ar, falei com poucas pessoas e, mesmo que eu não me sentisse culpado, eu falei com Tati porque não queria ser inconveniente. Foi então que eles chegaram.
- Finalmente.
Todos viram de longe aquele exato carro, tocando aquele exato som. E todos suaram frio. A música foi desligada e a porta dos fundos foi tomada por uma superlotação inesperada. Segurei a mão dela com toda minha força. Depois procura-la por anos, nos quais ela se escondeu atrás daquela menina que tinha medo de gente, não poderia perdê-la agora. Havia uma janela de um quarto no primeiro andar que poucos deveriam saber da existência. Seria fácil pular. Entramos no quarto e nos deparamos com dois rapazes que foram tomados de surpresa quando eu entendi a situação.
Um deles era muito parecido com Bruce Springsteen, já o outro eu creio que era o intercambista da sala 23. Gritei para que eles saíssem logo pela janela conosco, o tempo estava correndo. Passamos pela janela e subimos pelo morro de trás da casa. Algumas pessoas iam para a mesma direção que nós, outros apenas corriam para o outro canto do planeta almejando por segurança.
Já fazia alguns minutos que estávamos correndo, então pensamos que já estávamos seguros ali. Os rapazes sentaram-se a alguns metros de nós e terminaram o que haviam começado. Eu só conseguia segurar sua delicada mão. Comecei a sentir um cheiro de queimado: era o telhado. Ah, pobre Tati...
Creio que nem ela se importava muito, já que estávamos ali, um com o outro, dali pra frente para sempre, movidos pela vontade de existir.
- E vocês ficaram ali, vendo a casa queimar? Qual é o seu problema?
- Ela estava linda.
                                                                                              - Nick