Ponho-me
de frente a minha edição da Saraiva de bolso e encaro aquela caricatura
pensante, enfadonha, um tanto torta e pergunto “Como você fez? Como você caracterizou
esses sentimentos e ainda mais importante, está situações?” Mas ele não se da
ao trabalho nem de olhar pra mim enquanto falo. Ele fica ali estático. Então
vejo que estou falando com um livro e não creio que exista um tratamento
específico para seja lá qual problema que eu tenha. Machado é um autor defunto há
muito tempo, e não vai responder nenhuma das minhas perguntas.
Morte e Autores,
basicamente as duas palavras chaves do romance: Memórias Póstumas de Brás
Cubas, escrito em 1880 por Machado de Assis. Este livro de nome
consideravelmente grande que se explica por si só é a história de Vida da
personagem Brás Cubas contado pelo próprio, após a sua morte. É ai que vemos
como ele difere de Machado nos dias de hoje. Machado é um autor defunto e Brás,
que não foi autor em vida, resolveu tornar-se após a morte, escrevendo assim a
sua vida a partir da tinta da melancolia.
“Interessante, um homem que após chegando ao outro lado
consegue escrever um livro” Sim “Saberemos como é a ‘vida’ após a morte!” Não.
Brás começa sua história falando de seus últimos minutos e delírios (que
encarei como os que eu tinha quando era menor e ficava com febre) de vida e seu
funeral, para então contar seu nascimento e a partir daí seguir em ordem
cronológica até chegar novamente à morte. Não há em momento algum qualquer
descrição do “além” alem das palavras: eternidade e inexistência material.
Não quero manter o argumento de TODOS os livros que me foram
pedidos para ler na escola, bons ou não, e dizer que ele faz uma crítica à
sociedade da época. “Memórias” é uma representação da humanidade, a palavra época
não se encaixa no contexto. A vida de Brás e as que circulam ao seu redor e as
conclusões tiradas a cada pedaço do livro valem para hoje, para o futuro, e o
que mais me impressiona: é que valeram para o passado.
Não sou um fã dos livros que me eram colocados para ler na
escola (e ainda são), e me irritava bastante que eram 90% brasileiros. Poderiam
ao menos fazer uma média ou então pelo menos colocarem trabalhos bons em nossa
frente, de pouco me vale um livro insuportável que retrate perfeitamente uma
época há muito tempo acabada, só vai me ajudar a crer que tudo dessa idade é
igual a isso que estão me obrigando a ler e criarei inconscientemente um ódio miserável
por tudo que seja de época. Também basta de que 99% dos livros até a Oitava
série sejam sobre: Drogas, Anorexia, Álcool, Bullying e afins. Não moldaram a
opinião de ninguém, não por serem tópicos desnecessários (porque concordo que
sejam importantes), mas por não terem qualidade. Apresentem aos alunos algo que
os façam realmente pensar e, nesse caso devo dizer que as produções exteriores
(filmes) são geralmente melhores. Adaptando uma frase de Niemeyer “Não existe
nova e velha literatura, apenas boa e má literatura.”.
Posso haver-me desfocado um pouco objetivo, mas é que foram
poucos (bem poucos) os livros escolares que cumpriram um objetivo de consciência
maior, que foram realmente lidos por completo e não em resumos na internet,
filmes ou adaptações em quadrinhos, e Memórias Póstumas, o clássico da literatura
brasileira, nunca me foi pedido. Apenas tivemos de ver o filme, que não nos foi
cobrado. Engraçado, não é?
O que
mais me impressiona neste livro é a ironia, mas não é aquela nos livros que se
resume a momentos e frases, nele a ironia trata do livro inteiro. Em como a
sociedade pode “prever” um futuro completo e fantástico para alguém, baseado e
falsas premissas de status e reconhecimento, e como podemos provar que estão
todos errados por não alcançarmos nenhum dos objetivos que nos foram impostos,
tendo uma vida nem tão completa e nem tão fantástica por outros olhos e ainda
assim tirar sarro do que chamam de miséria, sem grandes feitos. Como nos
sentimos obrigados a exagerar cada momento, sendo que as coisas deveriam ser
aproveitadas pelo que elas são. Simples, como sempre foram.
Brás fala muitas vezes diretamente com o leitor, o que deixa
a abordagem bem pessoal. Somos acolhidos por seu carisma. Ele desmitifica o
fato do livro ser “grande” uma vez que sua própria vida não foi. “...o maior
defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda
devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e
este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda,
andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...”.
Uma coisa é obvia, o livro é de 1880, logo carrega um o
linguajar de 1880. Coisa que não dificulta a compreensão da história, mas
pessoalmente eu queria entender cada palavra, já que em breves momentos
perdia-me um pouco do contexto. Dava-me aquela vontade de haver prestando
(alguma) atenção nas aulas de português quando era menor, facilitaria minha
vida de muitas maneiras. E uma última observação sobre a obra é a seguinte:
Senti de certa forma que o autor chega um pouco antes do final e corre, como se
o livro tivesse um prazo. Poderia haver tratado os capítulos finais com um
pouco mais de carinho como o resto do livro.
A versão cinematográfica do livro é muito boa por acaso.
Claro que, como a maioria, não supera o livro, mas tem uma ótima escolha de
elenco o um roteiro adaptado deveras satisfatório, vale a pena conferir.
Bem um livro de título tão grande merece uma postagem ao
menos equivalente. Espero que tenham gostado, continuem sintonizados e deem
suas opiniões sobre a obra, ou qual sua obra da literatura brasileira favorita.
Vielen Dank.
Reginaldo Faria (Filme) |
Bem, primeiramente compartilho sobre os livros que somos impostos para lêr na época de colégio. São geralmente um horror com um português arcaico e na verdade bastante chatos.
ResponderExcluirEm particular, esse livro é dos melhores em minha humilde opinião. Os outros de Machado de Assis não me chamam a atenção.