Existem dias ótimos, perfeitos, onde você encontra alguém
que você gosta muito depois de muito tempo sem a ver, dias que você ganha aquilo
que queria muito, dias em que todas as questões que você chutou estavam certas
ou dias em que sua Ex acaba levando uma torta na cara. O relato a seguir não retrata um dia desses.
Sai do terminal me conformando de
que iria ter mais alguns quilômetros pela frente para andar. Eu estava
fisicamente cansado e internamente... Internamente... Nada. Eu não estava
triste, nem contente ou bravo. Só estava indiferente, é um estado neutro onde não
existe propósito para tudo que tenha passado pela sua cabeça. Eu estava nada,
agora não estou mais.
Estava quente, como um bordel de 3x4 em noites de promoção,
eu acho. Continuo andando e tentando dizer para mim mesmo que o calor é meramente
psicológico, eu precisava chegar a tempo, e ele urgia. Faço apenas uma pausa
para pegar, nos confins de minha mochila, meu companheiro musical eletrônico.
Ponho a mochila de volta nas costas e vejo o Ipod sem bateria. – lindo. Mais
uma pausa para devolver o Ipod aonde o Sol não bate, entre os cadernos. Volto a
caminhar em direção ao meu objetivo. Se é que eu poderia chamar aquilo de
caminhar, pois minhas pernas apenas balbuciavam movimentos e as inúmeras rachaduras
e os desníveis do solo pouco ajudavam. All Stars são péssimos tênis para essas
situações, não que isso fizesse muita diferença já que meus pés eram uma parte
do meu corpo que eu não sentia a um bom tempo. Os raios solares continuavam a
alfinetar minha retina e faziam um som convidativo para a melanina, que ia
aumentando no meu rosto.
Desliguei meu relógio, não valia a pena manter a pressão
incontestável do tempo. Eu iria chegar na hora que eu iria chegar. Nada era
capaz de mudar isso.
Comecei a tocar uma trilha sonora na minha cabeça, que por
acaso era bem parecida com a do meu Ipod.
Lá pela metade do caminho eu encontrei uma sorveteria e pensei
“como um Milk-shake cairia bem” ou nem tanto. Um Milk-shake pode haver me
proporcionado uma ótima experiência alguma outra vez e por isso penso que seria
ótimo tomar um no momento. Começo a olhar para cima e ver o quão azul é o céu,
então tropeço. Meus pés não estavam dispostos a cumprir suas funções mais
básicas. Isso, ou uma mera ironia do destino.
Que os textos não mostrem o quão melancólico ou ruim (ou
ambos) o mundo é. A quão fadada à desgraça a humanidade está. Eu não ganho nada
com isso. Preferia também só ter elogios a proferir. Mas porque odiar tanto? Eu
poderia sorrir, mas ainda assim uma hora meu rosto iria voltar a uma forma mais
natural. Não é de grande valor você se irritar ou decepcionar-se com algo ou
alguém que não sabe que erra ou que não liga para você. Não é como se desse
texto você fosse extrair alguma lição de moral ou uma revelação astrológica. Só
mostro como às vezes eu tento ver a pintura por completo, retirar o foco do
olhar e ainda assim não desfocar. E eu estava nada.
Gostaria de saber se existem pessoas que pensam assim.
Mentira, não queria.
-Nick
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