Hoje eu recebi uma ligação de um
desconhecido. Recebi a ligação por haver colocado meu número em cartazes e
distribui-los pela Rua. Eu fiz isso e nem por um momento eu cogitei como seria
se alguém realmente ligasse. De todas as pessoas que passaram pela rua, de
todas que notaram o cartaz, de todas que o leram, de todas que tiveram a coragem
para puxar a fita com o número e ligar, de todas essas probabilidades eu nem
por um segundo pensei que iria receber uma ligação. Será que ela se importava?
Será que precisava de ajuda? Um conselho? Um ombro... Um amigo? Será que ela
era alta? Baixa? Loira? Morena? Que gostava de sobremesa? Talvez meio vesga. Só
sei que de todas as coisas que ela era, eu só pude perceber uma voz, comum e
corrente. Meio desentendida, que de inocente não sabia o que fazer, assim como
eu. Arrependo-me de não haver perguntado como havia sido seu dia, seu café, se
tinha medo de algo, ou se preferia calor ou frio. Fiquei ali, balbuciando e
disse “Isto é uma experiência, por causa do boato de que o mundo iria acabar.
Eu lhe desejo um belo dia”. Ao menos isso. Imagine aquela pessoa, atrás da
verdade, da mentira, que de tudo, só queria entender como era que tudo isso funcionava. Ao menos ela recebeu um bom dia, ao menos isso para saciar essa
vontade. Ao menos eu sorri ao proferir cada palavra que atravessava o telefone,
espero que ao menos, ele tenha sentido isso.
Pensei em ligar de novo, em realmente
conversar, mas o tempo já tinha fechado e talvez a vontade dele já tivesse
passado. Mas a verdade é que eu já estava tão feliz e desacreditado que ela
havia ligado que não precisei de mais nada. Talvez ela não, talvez para ela
tenha sido só uma tentativa frustrada. E só espero que não.
Mas além de tudo, valeu a
experiência, valeu meu sorriso até agora, valeu aquele bom dia que fica até a
próxima tentativa. Até a próxima experiência meu amigo no fim do mundo.
-Nick